Meninos e Meninas

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Quem disse que a infância nunca mais volta? Mentira. Volta sim. Por exemplo, nos meus tempos de escola primária e ginasial existiam dois grupos separados – meninos de um lado e meninas do outro. Não fosse isso uma causa natural, era ainda mais incentivado pelas “irmãs”, já que eu estudava em colégio católico, ou seja, a amizade entre meninos e meninas não era algo muito bem visto.

E eu achava isso uma merda. Sempre achei. Sempre fui contra esse sistema. E sempre lutei ou remei contra essa maré.

Sempre gostei da companhia das meninas. Sempre achei mais interessante a conversa delas. Talvez por ter sido criado muito apegado à minha mãe. Eu gostava de fazer companhia para ela a todo lado – na piscina, nas lojas, no supermercado, na cozinha. Dava pitaco nas roupas que ela escolhia. Dava pitaco nas roupas das amigas dela. E sempre achei isso muito natural.

E aí o tempo passa. A gente cresce. E vai virar adulto. E pensa “tudo será diferente”. Diferente? Diferente o caralho. Aliás, é diferente sim. É a mesma bosta, só que piorado ao cubo. Qualquer festa, reunião social, comemoração e lá está – Clube do Bolinha de um lado e Clube da Luluzinha do outro. Que porre… Que merda… Eu fico mais deslocado do que ateu em igreja evangélica. Não queria estar de um lado e não posso ficar do outro…

Deus me livre, que absurdo seria, absurdo dos absurdos, um homem sozinho em um grupo de mulheres, ou vice-versa. Ou um homem casado conversando sozinho em um canto com outra mulher que não a sua, seja ela solteira ou casada. Um escândalo de proporções épicas… Isso é melancólico, se não fosse patético e hipócrita.

Salvo honrosas exceções, o papo dos homens é invariável – carro, moto, futebol, cachaça, cerveja… E olha que aí ainda está a parte boa da conversa. E quando descamba para a situação política, econômica e profissional? Puta que o pariu, que saco. Chato p´ra caralho. Ah, e ainda tem a pior de todas – as mulheres que eles juram que comeram mas que, com toda certeza, nunca nem sequer cumprimentaram… Uma vez fiquei ouvindo um Zé Ruela falar de uma fulana de tal que ele tava comendo. A maior mentira na cara lavada, ela mal olhava e ele dizendo que isso era para não dar bandeira. Como eu sabia que ele estava mentindo? Óbvio, ululante, quem “tava pegando” era eu…

Tá bom, tá bom. Mulher também tem papo chato de vez em quando. Quando descamba a falhar de filhos é uma merda também. Quando a conversa entra naquele clima de “boa mãe, boa esposa, boa cidadã, boa filha, boa pessoa” é outra bosta. Sabe? Com certeza você já ouviu isso. Você sabe que a conversa está ruim quando ouve muito “que nojo”, “ai que horror”, “jamais faria isso” e outras falsidades do gênero. É a chamada “penosa regenerada”. Isso sem falar nas eternamente virgens puras do além…

Mas quando estão entre amigas que se conhecem, se curtem, se gostam e confiam, meu Deus, que papo gostoso e sensacional. Aí fala-se de moda, praia, nudismo, transcendentalismo, bruxas, magia, sexo, sonhos, fantasias, projetos, corpo, peito empinado, bunda caída, canela grossa, beijo, brochada, paquera, tamanho disso, tamanho daquilo, gastronomia, vinho, dor de cotovelo, “o tesão que é o Maluma”, dar isso, dar aquilo e por aí vai. E muita, muita, mas muita gargalhada. Ah, o principal, quando elas falam que “deram” pra um cara, pode acreditar, deram mesmo…

As mulheres, queiram ou não, são muito mais criativas, inventivas, sensíveis, imprevisíveis e adoráveis do que os homens. E a TPM, o ciclo menstrual, o ciclo fértil, as tornam seres ainda mais interessantes.

Eu tenho uma história que ilustraria perfeitamente o que eu quero dizer, mas ia tornar o texto mais longo do que já está. Para resumir – eu me “obriguei” a ficar no Clube do Bolinha, numa festa infantil, em um buffet infantil. Melhor que isso só um tiro na testa. Pois bem, papo dos piores – trabalho. Volta e meia, eu olhava para o Clube da Luluzinha e elas gargalhando adoidado e eu entendia perfeitamente do que estavam falando. E eu ali… Pelo menos estava passando “A Praça é Nossa” numa TV próxima (maior número de mulher gostosa por metro quadrado na televisão brasileira). E aí veio a gota d´água. Um dos caras chamou uma pessoa do buffet e pediu para desligar a televisão porque o conteúdo era “ofensivo” para as crianças. Ah, meu, vai se foder… Meu Deus, para o mundo que eu quero descer. Vai ser babaca na puta que o pariu.

Mas, fazer o que? C´est lá vie. Este é o mundo em que vivemos. Eu acho que é um mundo louco, chato e hipócrita p´ra cacete. As pessoas acham que o louco e chato sou eu… Como sempre, venceu a maioria! E vamos tocando. E é por isso que eu amo aquilo que Deus me deu de melhor. Imaginação! O mundo que acontece dentro da minha cabeça é mil vezes melhor que o mundo que acontece fora dela. Já é um bom consolo. E, em algumas raras ocasiões, conseguimos fugir do status quo e encontrar uma genuína roda feminina interessante, um ótimo consolo.

E a banda segue tocando…

 

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